segunda-feira, 3 de novembro de 2008

A Garotinha




Com os pés descalços e sujos, a garota apenas sentou e assistiu as pessoas passarem. Ela nunca tentou falar, nunca disse uma palavra. Muitas pessoas passavam, mas ninguém parava.
No dia seguinte, eu decidi voltar para o parque, curioso se a garotinha ainda estaria lá.
Ela se encontrava no mesmo local que ontem, mas com um olhar mais triste.
Hoje eu resolvi tomar uma atitude e andei em direção à garotinha.
Como todos sabem, um parque cheio de pessoas estranhas não é um local apropriado para uma criança brincar sozinha.
Enquanto eu andava em direção a ela, pude ver que nas costas do vestido da garotinha havia uma deformidade. Eu descobri a razão porque as pessoas passavam e não moviam um único dedo para ajudar.
Enquanto chegava mais perto, a garotinha levemente desviou o olhar para evitar que eu a encarasse.
Eu pude ver o formato de suas costas mais claramente. Havia uma corcova grotesca, como a de um corcunda. Eu sorri para mostrar à garota que estava tudo bem, eu estava lá para ajudar, para conversar. Sentei ao lado dela e comecei o bate-papo com um simples "olá".
A garotinha mostrou-se chocada e arriscou um "oi" depois de me encarar longamente nos olhos.
Eu sorri e ela timidamente sorriu de volta. Nós conversamos até a noite declinar e o parque ficar completamente vazio.
Todos tinham ido e estávamos sós. Perguntei à garota porque ela estava tão triste.
A garotinha olhou para mim e, com uma carinha triste, disse:
- "Porque eu sou diferente."
Eu imediatamente respondi:
- "É !" e sorri.
A garotinha ficou ainda mais triste e disse,
- "Eu sei."
- "Garotinha", eu disse, - "Você me lembra um anjo, doce e inocente."
Ela olhou para mim e sorriu. Vagarosamente ela ficou em pé e disse,
- "Verdade?".
- "Sim, - você é como um pequeno anjo da guarda mandado para olhar por todas as pessoas que passam." Ela balançou sua cabeça afirmativamente, sorriu e, com isso, alargou suas asas e disse,
- "Eu sou. Eu sou o seu anjo da guarda", com um leve piscar em seus olhos.
Eu fiquei sem fala, certo de que estava vendo coisas. Ela disse,
- "Pelo menos uma vez você pensou em alguém que não fosse você mesmo. - "Meu trabalho está feito aqui." Imediatamente me levantei e disse,
- "Espere, então porque ninguém parou para ajudar um anjo?".
Ela olhou para mim e sorriu, "Você era o único que podia me ver e você acredita nisso em seu coração."
E ela se foi. A partir daí, minha vida mudou drasticamente.
Portanto, todas as vezes que pensar que você é tudo o que você tem, lembre-se: seu anjo está sempre olhando por você...

O ESCORPIÃO E A RÃ


Rubem Alves

Um dia a floresta pegou fogo. E incêndio não tem medo de rabo de escorpião. Só havia um jeito de fugir da morte: era atravessando o rio, para o outro lado. Os bichos que sabiam nadar pulavam na água, levando seus amigos nas costas. Mas o escorpião nem tinha amigos nem sabia nadar. E não havia ninguém que se arriscasse a oferecer-lhe carona.
O escorpião então, valentia e coragem sumidas ante o fogo que se aproximava, foi forçado a se humilhar. Dirigiu-se com voz mansa à rã, que se preparava para a travessia.
- Por favor, me leve nas suas costas - ele disse.
- Eu não sou louca. Sei muito bem o que você faz a todos que se aproximam de você - replicou a rã.
- Mas veja - argumentou o escorpião -, eu não posso picá-la com o meu ferrão. Se o fizesse você morreria, afundaria, e eu junto, pois não sei nadar.
A rã ponderou que o raciocínio estava certo. Podia ser que o escorpião fosse muito feroz, mas não podia ser burro. Todo mundo ama a vida. O escorpião não podia ser diferente. Ele não iria matar, sabendo que assim se mataria... E como tinha bom coração resolveu fazer esta boa ação.
- Muito bem - disse a rã ao escorpião. - Suba nas minhas costas. Vou salvar sua vida...
O escorpião se encheu de alegria, subiu nas costas lisas da rã, e começaram a travessia.
- Que coisa - ele pensou - é a primeira vez que me encosto em alguém de corpo inteiro. Antes era só o ferrão... E até que não é ruim. O corpo da rã é bem maciinho...
Enquanto isso a rã ia dando suas braçadas tranqüilas, nado de peito, deslizando sobre a superfície.
- E como é gostoso navegar - continuou o escorpião nos seus pensamentos. - Estes borrifos de água, como são gostosos. É bom ter a rã como amiga...
Estavam bem no meio" do rio. O escorpião olhou para trás e viu a floresta em chamas.
- Se não fosse a rã, eu estaria morto neste momento.
E um estranho sentimento, desconhecido, encheu seu coração: gratidão. Nem sempre veneno e ferrão são a melhor solução. A vida estava com a rã, macia e inofensiva, que não inspirava medo a ninguém...
Sentiu seu corpo descontrair-se. Achou que a vida era boa... Era bom poder baixar a guarda e descansar.
Voltou-se de novo para trás para olhar a floresta incendiada. Mas, ao fazer isto, viu-se refletido, corpo inteiro, na água do rio que brilhava à luz do fogo. E o que viu o horrorizou: seu rabo, dantes ereto, agora dobrado, desarmado. Escorpião de rabo mole... Todos ririam dele. E sentiu um ódio profundo da rã.
- Espelho, espelho meu, existe bicho mais terrível que eu? A resposta estava naquele rabo mole, refletido no espelho da água. E a única culpada era a rã...
Sem um outro pensamento enrijeceu o rabo e o enfiou nas costas da rã.
A rã morreu. E com ela o escorpião.
A estupidez do poder é maior que o amor à vida.
O escorpião e a rã. São Paulo, Ed. Loyola, 1989. p. 10-5.

SÓ MINEIRO INTENDE...

Sapassado, era sessetembro,
taveu na cuzinha tomando uma picumel
e cuzinhando um kidicarne com mastumate
pra fazê uma macarronada com galinhassada.

Quascaí de susto,
quando ouvi um barui de dendoforno,
pareceno um tidiguerra.

A receita mandopô
midipipoca dentro da galinha prassá.
O forno isquentô,
u mistorô e o fiofó da galinha ispludiu!!

Nossinhora!
Fiquei branco quinein um lidileite.
Foi um trem doidimais!!

Quascaí dendapia!
Fiquei sensabê doncovim,
proncovô, oncotô.

Óiprocevê quelucura!!!

Grazadeus ninguém simaxucô

sábado, 1 de novembro de 2008

Sonho impossível

"Eu tenho uma espécie de dever,
de dever de sonhar,de sonhar sempre,
pois sendo mais do que um espectador de mim mesmo,
eu tenho que ter o melhor espetáculo que posso।
E assim me construo a ouro e sedas, em salas supostas,
invento palco, cenário,para viver o meu sonho
entre luzes brandas e músicas invisíveis।"

(Fernando Pessoa)


http://br।youtube.com/watch?v=3Nr3_AsQrh4&feature=related

A cobra e o vaga-lume

Era uma vez uma cobra que começou a perseguir um vaga-lume que só vivia para brilhar.
Ele fugia rápido com medo da feroz predadora e a cobra nem pensava em desistir.
Fugiu um dia e ela não desistia, dois dias e nada...

No terceiro dia, já sem forças o vaga-lume parou e disse à cobra:
- Posso fazer três perguntas ?
- Não costumo abrir esse precedente para ninguém mas já que vou te comer mesmo, pode perguntar...
- Pertenço a sua cadeia alimentar ?
- Não.
- Te fiz alguma coisa ?
- Não.
- Então por que você quer me comer ?
- PORQUE NÃO SUPORTO VER VOCÊ BRILHAR...

Pensem nisso e selecione as pessoas em quem confiar.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

A borboleta no casulo



Um dia, uma pequena abertura apareceu em um casulo; um homem sentou e observou a borboleta por várias horas, conforme ela se esforçava para fazer com que seu corpo passasse através daquele pequeno buraco.

Então pareceu que ela havia parado de fazer qualquer progresso.

Parecia que ela tinha ido o mais longe que podia, e não conseguia ir mais. Então o homem decidiu ajudar a borboleta: ele pegou uma tesoura e cortou o restante do casulo. A borboleta então saiu facilmente. Mas seu corpo estava murcho e era pequeno e tinha as asas amassadas.

O homem continuou a observar a borboleta porque ele esperava que, a qualquer momento, as asas dela se abrissem e esticassem para serem capazes de suportar o corpo que iria se afirmar a tempo.

Nada aconteceu! Na verdade, a borboleta passou o resto da sua vida rastejando com um corpo murcho e asas encolhidas. Ela nunca foi capaz de voar. O que o homem, em sua gentileza e vontade de ajudar não compreendia, era que o casulo apertado e o esforço necessário à borboleta para passar através da pequena abertura era o modo com que a natureza fazia com que o fluido do corpo da borboleta fosse para as suas asas, de modo que ela estaria pronta para voar uma vez que estivesse livre do casulo.

Algumas vezes, o esforço é justamente o que precisamos em nossa vida. Se passássemos esta nossa vida sem quaisquer obstáculos, nós não iríamos ser tão fortes como poderíamos ter sido.

Eu quis Força... e recebi Dificuldades para me fazer forte.
Eu quis Sabedoria... e recebi Problemas para resolver.
Eu quis Prosperidade... e recebi Cérebro e Músculos para trabalhar.
Eu quis Coragem... e recebi Perigo para superar.
Eu quis Amor... e recebi pessoas com Problemas para ajudar.
Eu quis Favores... e recebi Oportunidades.
Eu não tive nada do que quis... Mas eu recebi tudo de que precisava.

A Águia e a Galinha



"Era uma vez um camponês que foi à floresta vizinha apanhar um pássaro, a fim de mantê-lo cativo em casa. Conseguiu pegar um filhote de águia.
Colocou-o no galinheiro junto às galinhas. Cresceu como uma galinha.
Depois de cinco anos, esse homem recebeu em sua casa a visita de um naturalista. Enquanto passeavam pelo jardim, disse o naturalista:
- Esse pássaro aí não é uma galinha. É uma águia.
- De fato, disse o homem.- É uma águia. Mas eu a criei como galinha. Ela não é mais águia. É uma galinha como as outras.
- Não, retrucou o naturalista.- Ela é e será sempre uma águia. Este coração a fará um dia voar às alturas.
- Não, insistiu o camponês. Ela virou galinha e jamais voará como águia.
Então decidiram fazer uma prova. O naturalista tomou a águia, ergueu-a bem alto e, desafiando-a, disse:
- Já que você de fato é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, então abra suas asas e voe!
A águia ficou sentada sobre o braço estendido do naturalista. Olhava distraidamente ao redor. Viu as galinhas lá embaixo, ciscando grãos. E pulou para junto delas.
O camponês comentou:
- Eu lhe disse, ela virou uma simples galinha!
- Não, tornou a insistir o naturalista. - Ela é uma águia. E uma águia sempre será uma águia. Vamos experimentar novamente amanhã.
No dia seguinte, o naturalista subiu com a águia no teto da casa.
Sussurrou-lhe:
- Águia, já que você é uma águia, abra suas asas e voe!
Mas, quando a águia viu lá embaixo as galinhas ciscando o chão, pulou e foi parar junto delas.
O camponês sorriu e voltou a carga:
- Eu havia lhe dito, ela virou galinha!
- Não, respondeu firmemente o naturalista. - Ela é águia e possui sempre um coração de águia. Vamos experimentar ainda uma última vez. Amanhã a farei voar.
No dia seguinte, o naturalista e o camponês levantaram bem cedo. Pegaram a águia, levaram-na para o alto de uma montanha. O sol estava nascendo e dourava os picos das montanhas.
O naturalista ergueu a águia para o alto e ordenou-lhe:
- Águia, já que você é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, abra suas asas e voe!
A águia olhou ao redor. Tremia, como se experimentasse nova vida. Mas não voou. Então, o naturalista segurou-a firmemente, bem na direção do sol, de sorte que seus olhos pudessem se encher de claridade e ganhar as dimensões do vasto horizonte.
Foi quando ela abriu suas potentes asas.
Ergueu-se, soberana, sobre si mesma. E começou a voar, a voar para o alto e voar cada vez mais para o alto.
Voou. E nunca mais retornou.