segunda-feira, 3 de novembro de 2008

A Garotinha




Com os pés descalços e sujos, a garota apenas sentou e assistiu as pessoas passarem. Ela nunca tentou falar, nunca disse uma palavra. Muitas pessoas passavam, mas ninguém parava.
No dia seguinte, eu decidi voltar para o parque, curioso se a garotinha ainda estaria lá.
Ela se encontrava no mesmo local que ontem, mas com um olhar mais triste.
Hoje eu resolvi tomar uma atitude e andei em direção à garotinha.
Como todos sabem, um parque cheio de pessoas estranhas não é um local apropriado para uma criança brincar sozinha.
Enquanto eu andava em direção a ela, pude ver que nas costas do vestido da garotinha havia uma deformidade. Eu descobri a razão porque as pessoas passavam e não moviam um único dedo para ajudar.
Enquanto chegava mais perto, a garotinha levemente desviou o olhar para evitar que eu a encarasse.
Eu pude ver o formato de suas costas mais claramente. Havia uma corcova grotesca, como a de um corcunda. Eu sorri para mostrar à garota que estava tudo bem, eu estava lá para ajudar, para conversar. Sentei ao lado dela e comecei o bate-papo com um simples "olá".
A garotinha mostrou-se chocada e arriscou um "oi" depois de me encarar longamente nos olhos.
Eu sorri e ela timidamente sorriu de volta. Nós conversamos até a noite declinar e o parque ficar completamente vazio.
Todos tinham ido e estávamos sós. Perguntei à garota porque ela estava tão triste.
A garotinha olhou para mim e, com uma carinha triste, disse:
- "Porque eu sou diferente."
Eu imediatamente respondi:
- "É !" e sorri.
A garotinha ficou ainda mais triste e disse,
- "Eu sei."
- "Garotinha", eu disse, - "Você me lembra um anjo, doce e inocente."
Ela olhou para mim e sorriu. Vagarosamente ela ficou em pé e disse,
- "Verdade?".
- "Sim, - você é como um pequeno anjo da guarda mandado para olhar por todas as pessoas que passam." Ela balançou sua cabeça afirmativamente, sorriu e, com isso, alargou suas asas e disse,
- "Eu sou. Eu sou o seu anjo da guarda", com um leve piscar em seus olhos.
Eu fiquei sem fala, certo de que estava vendo coisas. Ela disse,
- "Pelo menos uma vez você pensou em alguém que não fosse você mesmo. - "Meu trabalho está feito aqui." Imediatamente me levantei e disse,
- "Espere, então porque ninguém parou para ajudar um anjo?".
Ela olhou para mim e sorriu, "Você era o único que podia me ver e você acredita nisso em seu coração."
E ela se foi. A partir daí, minha vida mudou drasticamente.
Portanto, todas as vezes que pensar que você é tudo o que você tem, lembre-se: seu anjo está sempre olhando por você...

O ESCORPIÃO E A RÃ


Rubem Alves

Um dia a floresta pegou fogo. E incêndio não tem medo de rabo de escorpião. Só havia um jeito de fugir da morte: era atravessando o rio, para o outro lado. Os bichos que sabiam nadar pulavam na água, levando seus amigos nas costas. Mas o escorpião nem tinha amigos nem sabia nadar. E não havia ninguém que se arriscasse a oferecer-lhe carona.
O escorpião então, valentia e coragem sumidas ante o fogo que se aproximava, foi forçado a se humilhar. Dirigiu-se com voz mansa à rã, que se preparava para a travessia.
- Por favor, me leve nas suas costas - ele disse.
- Eu não sou louca. Sei muito bem o que você faz a todos que se aproximam de você - replicou a rã.
- Mas veja - argumentou o escorpião -, eu não posso picá-la com o meu ferrão. Se o fizesse você morreria, afundaria, e eu junto, pois não sei nadar.
A rã ponderou que o raciocínio estava certo. Podia ser que o escorpião fosse muito feroz, mas não podia ser burro. Todo mundo ama a vida. O escorpião não podia ser diferente. Ele não iria matar, sabendo que assim se mataria... E como tinha bom coração resolveu fazer esta boa ação.
- Muito bem - disse a rã ao escorpião. - Suba nas minhas costas. Vou salvar sua vida...
O escorpião se encheu de alegria, subiu nas costas lisas da rã, e começaram a travessia.
- Que coisa - ele pensou - é a primeira vez que me encosto em alguém de corpo inteiro. Antes era só o ferrão... E até que não é ruim. O corpo da rã é bem maciinho...
Enquanto isso a rã ia dando suas braçadas tranqüilas, nado de peito, deslizando sobre a superfície.
- E como é gostoso navegar - continuou o escorpião nos seus pensamentos. - Estes borrifos de água, como são gostosos. É bom ter a rã como amiga...
Estavam bem no meio" do rio. O escorpião olhou para trás e viu a floresta em chamas.
- Se não fosse a rã, eu estaria morto neste momento.
E um estranho sentimento, desconhecido, encheu seu coração: gratidão. Nem sempre veneno e ferrão são a melhor solução. A vida estava com a rã, macia e inofensiva, que não inspirava medo a ninguém...
Sentiu seu corpo descontrair-se. Achou que a vida era boa... Era bom poder baixar a guarda e descansar.
Voltou-se de novo para trás para olhar a floresta incendiada. Mas, ao fazer isto, viu-se refletido, corpo inteiro, na água do rio que brilhava à luz do fogo. E o que viu o horrorizou: seu rabo, dantes ereto, agora dobrado, desarmado. Escorpião de rabo mole... Todos ririam dele. E sentiu um ódio profundo da rã.
- Espelho, espelho meu, existe bicho mais terrível que eu? A resposta estava naquele rabo mole, refletido no espelho da água. E a única culpada era a rã...
Sem um outro pensamento enrijeceu o rabo e o enfiou nas costas da rã.
A rã morreu. E com ela o escorpião.
A estupidez do poder é maior que o amor à vida.
O escorpião e a rã. São Paulo, Ed. Loyola, 1989. p. 10-5.

SÓ MINEIRO INTENDE...

Sapassado, era sessetembro,
taveu na cuzinha tomando uma picumel
e cuzinhando um kidicarne com mastumate
pra fazê uma macarronada com galinhassada.

Quascaí de susto,
quando ouvi um barui de dendoforno,
pareceno um tidiguerra.

A receita mandopô
midipipoca dentro da galinha prassá.
O forno isquentô,
u mistorô e o fiofó da galinha ispludiu!!

Nossinhora!
Fiquei branco quinein um lidileite.
Foi um trem doidimais!!

Quascaí dendapia!
Fiquei sensabê doncovim,
proncovô, oncotô.

Óiprocevê quelucura!!!

Grazadeus ninguém simaxucô

sábado, 1 de novembro de 2008

Sonho impossível

"Eu tenho uma espécie de dever,
de dever de sonhar,de sonhar sempre,
pois sendo mais do que um espectador de mim mesmo,
eu tenho que ter o melhor espetáculo que posso।
E assim me construo a ouro e sedas, em salas supostas,
invento palco, cenário,para viver o meu sonho
entre luzes brandas e músicas invisíveis।"

(Fernando Pessoa)


http://br।youtube.com/watch?v=3Nr3_AsQrh4&feature=related

A cobra e o vaga-lume

Era uma vez uma cobra que começou a perseguir um vaga-lume que só vivia para brilhar.
Ele fugia rápido com medo da feroz predadora e a cobra nem pensava em desistir.
Fugiu um dia e ela não desistia, dois dias e nada...

No terceiro dia, já sem forças o vaga-lume parou e disse à cobra:
- Posso fazer três perguntas ?
- Não costumo abrir esse precedente para ninguém mas já que vou te comer mesmo, pode perguntar...
- Pertenço a sua cadeia alimentar ?
- Não.
- Te fiz alguma coisa ?
- Não.
- Então por que você quer me comer ?
- PORQUE NÃO SUPORTO VER VOCÊ BRILHAR...

Pensem nisso e selecione as pessoas em quem confiar.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

A borboleta no casulo



Um dia, uma pequena abertura apareceu em um casulo; um homem sentou e observou a borboleta por várias horas, conforme ela se esforçava para fazer com que seu corpo passasse através daquele pequeno buraco.

Então pareceu que ela havia parado de fazer qualquer progresso.

Parecia que ela tinha ido o mais longe que podia, e não conseguia ir mais. Então o homem decidiu ajudar a borboleta: ele pegou uma tesoura e cortou o restante do casulo. A borboleta então saiu facilmente. Mas seu corpo estava murcho e era pequeno e tinha as asas amassadas.

O homem continuou a observar a borboleta porque ele esperava que, a qualquer momento, as asas dela se abrissem e esticassem para serem capazes de suportar o corpo que iria se afirmar a tempo.

Nada aconteceu! Na verdade, a borboleta passou o resto da sua vida rastejando com um corpo murcho e asas encolhidas. Ela nunca foi capaz de voar. O que o homem, em sua gentileza e vontade de ajudar não compreendia, era que o casulo apertado e o esforço necessário à borboleta para passar através da pequena abertura era o modo com que a natureza fazia com que o fluido do corpo da borboleta fosse para as suas asas, de modo que ela estaria pronta para voar uma vez que estivesse livre do casulo.

Algumas vezes, o esforço é justamente o que precisamos em nossa vida. Se passássemos esta nossa vida sem quaisquer obstáculos, nós não iríamos ser tão fortes como poderíamos ter sido.

Eu quis Força... e recebi Dificuldades para me fazer forte.
Eu quis Sabedoria... e recebi Problemas para resolver.
Eu quis Prosperidade... e recebi Cérebro e Músculos para trabalhar.
Eu quis Coragem... e recebi Perigo para superar.
Eu quis Amor... e recebi pessoas com Problemas para ajudar.
Eu quis Favores... e recebi Oportunidades.
Eu não tive nada do que quis... Mas eu recebi tudo de que precisava.

A Águia e a Galinha



"Era uma vez um camponês que foi à floresta vizinha apanhar um pássaro, a fim de mantê-lo cativo em casa. Conseguiu pegar um filhote de águia.
Colocou-o no galinheiro junto às galinhas. Cresceu como uma galinha.
Depois de cinco anos, esse homem recebeu em sua casa a visita de um naturalista. Enquanto passeavam pelo jardim, disse o naturalista:
- Esse pássaro aí não é uma galinha. É uma águia.
- De fato, disse o homem.- É uma águia. Mas eu a criei como galinha. Ela não é mais águia. É uma galinha como as outras.
- Não, retrucou o naturalista.- Ela é e será sempre uma águia. Este coração a fará um dia voar às alturas.
- Não, insistiu o camponês. Ela virou galinha e jamais voará como águia.
Então decidiram fazer uma prova. O naturalista tomou a águia, ergueu-a bem alto e, desafiando-a, disse:
- Já que você de fato é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, então abra suas asas e voe!
A águia ficou sentada sobre o braço estendido do naturalista. Olhava distraidamente ao redor. Viu as galinhas lá embaixo, ciscando grãos. E pulou para junto delas.
O camponês comentou:
- Eu lhe disse, ela virou uma simples galinha!
- Não, tornou a insistir o naturalista. - Ela é uma águia. E uma águia sempre será uma águia. Vamos experimentar novamente amanhã.
No dia seguinte, o naturalista subiu com a águia no teto da casa.
Sussurrou-lhe:
- Águia, já que você é uma águia, abra suas asas e voe!
Mas, quando a águia viu lá embaixo as galinhas ciscando o chão, pulou e foi parar junto delas.
O camponês sorriu e voltou a carga:
- Eu havia lhe dito, ela virou galinha!
- Não, respondeu firmemente o naturalista. - Ela é águia e possui sempre um coração de águia. Vamos experimentar ainda uma última vez. Amanhã a farei voar.
No dia seguinte, o naturalista e o camponês levantaram bem cedo. Pegaram a águia, levaram-na para o alto de uma montanha. O sol estava nascendo e dourava os picos das montanhas.
O naturalista ergueu a águia para o alto e ordenou-lhe:
- Águia, já que você é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, abra suas asas e voe!
A águia olhou ao redor. Tremia, como se experimentasse nova vida. Mas não voou. Então, o naturalista segurou-a firmemente, bem na direção do sol, de sorte que seus olhos pudessem se encher de claridade e ganhar as dimensões do vasto horizonte.
Foi quando ela abriu suas potentes asas.
Ergueu-se, soberana, sobre si mesma. E começou a voar, a voar para o alto e voar cada vez mais para o alto.
Voou. E nunca mais retornou.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

A Vaquinha


Um Mestre da sabedoria passeava por uma floresta com seu fiel discípulo, quando avistou ao longe um sítio de aparência pobre e resolveu fazer uma breve visita …
Durante o percurso ele falou ao aprendiz sobre a importância das visitas e as oportunidades de aprendizado que temos, também com as pessoas que mal conhecemos.
Chegando ao sítio constatou a pobreza do lugar, sem calçamento, casa de madeiras, os moradores, um casal e três filhos, vestidos com roupas rasgadas e sujas …
Então se aproximou do senhor aparentemente o pai daquela família e perguntou: Neste lugar não há sinais de pontos de comércio e de trabalho, então como o senhor e a sua família sobrevivem aqui?
E o senhor calmamente respondeu:
"Meu amigo, nós temos uma vaquinha que nos dá vários litros de leite todos os dias. Uma parte desse produto nós vendemos ou trocamos na cidade vizinha por outros gêneros de alimentos e a outra parte nós produzimos queijo, coalhada, etc … para o nosso consumo, e assim vamos sobrevivendo".
O sábio agradeceu a informação, contemplou o lugar por uns momentos, depois se despediu e foi embora. No meio do caminho, voltou ao seu fiel discípulo e ordenou:
Aprendiz pegue a vaquinha, leve-a ao precipício ali na frente e empurre-a, jogue-a lá em baixo".
O jovem arregalou os olhos espantado e questionou o mestre sobre o fato da vaquinha ser o único meio de sobrevivência daquela família, mas, como percebeu o silêncio absoluto do seu mestre, foi cumprir a ordem. Assim, empurrou a vaquinha morro abaixo e a viu morrer.
Aquela cena ficou marcada na memória daquele jovem durante alguns anos e um belo dia ele resolveu largar tudo o que havia aprendido e voltar naquele mesmo lugar e contar tudo àquela família, pedir perdão e ajudá-los.
Assim fez, e quando se aproximava do local avistou um sítio muito bonito, com árvores floridas, todo murado, com carro na garagem e algumas crianças brincando no jardim. Ficou triste e desesperado imaginando que aquela humilde família tivera que vender o sítio para sobreviver, "apertou" o passo e chegando lá, logo foi recebido por um caseiro muito simpático e perguntou sobre a família que ali morava há uns quatro anos e o caseiro respondeu:
Continuam morando aqui.
Espantado ele entrou correndo na casa, e viu que era mesmo a família que visitara com o mestre. Elogiou o local e perguntou ao senhor (o dono da vaquinha): Como o senhor melhorou este sítio e está tão bem de vida ???
E o senhor entusiasmado, respondeu:
Nós tínhamos uma vaquinha que caiu no precipício e morreu, daí em diante tivemos que fazer outras coisas e desenvolver habilidades que nem sabíamos que tínhamos, assim alcançamos o sucesso que seus olhos vislumbram agora …
Ponto de reflexão:
Todos nós temos uma vaquinha que nos dá alguma coisa básica para sobrevivência e uma conveniência com a rotina. Descubra qual, a sua …
Aproveite esse momento da sua vida para empurrar sua "vaquinha" morro abaixo.

(Autor desconhecido)

terça-feira, 28 de outubro de 2008

A Bruxa do Silêncio


Era uma vez um povo barulhento que vivia a caminhar.

Na verdade não caminhava, fugia. Desde cedo aprenderam a temer a Bruxa do Silêncio.

Era difícil para aquela gente tão tagarela, imaginar que poderiam ficar sem falar, a partir do instante em que fossem pegos pela terrível bruxa.

"Que horror!", exclamavam os mais velhos.

"Que monstruosidade!", gritavam os mais jovens.

"Que grande absurdo!", diziam os que não eram jovens nem velhos.

E permaneciam correndo, alucinados, receando o poder da Bruxa do Silêncio.

E quanto mais corriam, mais tagarelavam e gritavam. Nem podiam escutar uns aos outros. Mas isso pouco importava.

Já estavam habituados a somente falar.

Era curioso como desde pequeninos aprenderam a temer a Bruxa do Silêncio, e era um medo que se passava de pai pra filho há séculos.

Diziam que ela era horrível, monstruosa e absurdamente má.

"Já imaginou se ela nos pega?", diziam os mais velhos.

"Já pensou se ela nos acha?", perguntavam apavorados os mais novos.

"Já lhes passou pela cabeça se ela nos torna seus cativos?", diziam os que não eram jovens nem velhos.

E prosseguiam correndo, horas mais rapidamente, horas mais lentamente; mas sempre barulhentos.

Uma mulher, na corrida, tropeçou e caiu. Continuou a tagarelar, só que dessa vez pedindo ajuda. Ficou no chão muito tempo a falar e resmungar esperando uma mão companheira que a levantasse.

Mas seus parceiros de jornada só tinham ouvidos para suas próprias palavras. E continuaram sua caminhada barulhenta e individualista.

Estavam caminhando juntos, mas eram, na verdade, absolutamente solitários.

A mulher resmungou, gritou e berrou, e só depois de muito tempo, quando percebeu que seus lamentos eram em vão e ninguém a ajudaria, levantou-se. Correu na direção do grupo gritando e berrando como era normal.

Um velho, sentiu-se cansado e reclamou, pedindo ajuda.

Queixou-se para os da esquerda, queixou-se para os da direita... Só recebeu outras palavras de reclamação em retorno, e que nada tinham a ver com a sua própria queixa.

Compreendeu que todos os seus companheiros só tinham ouvidos para eles mesmos.

O velho entendeu que esse também era o seu padrão, juntou as forças que não tinha e prosseguiu reclamando mais alto ainda. Berrava para si mesmo blasfêmias e impropérios, olhando para o umbigo.

Era engraçado mas só agora ele entendia o porquê de toda aquela gente, inclusive ele, ter orelhas tão pequenas, quase inexistentes.

Andaram e andaram, e continuaram andando, horas mais rapidamente, horas mais devagar, mas sempre fazendo barulho. Suas bocas nunca paravam...

Depois de vários dias, meses e anos, de longa e barulhenta marcha, fugindo da lendária Bruxa do Silêncio, a horda de faladores começou a descobrir uma paisagem diferente.

Estavam agora subindo uma colina forrada de bela manta de gramínea verde, que em alguns pontos era salpicada de pequenas flores de cor púrpura.

E no alto da bonita elevação eles puderam ver uma imensa torre.

Era uma torre de bronze, muito alta, tão alta que parecia tocar as nuvens.

Enquanto eles subiam a colina, iam também se admirando com a beleza das cores que a torre assumia ao ser banhada pelos raios de sol, quando o metal de que era construída ia refletindo a luz dourada do astro-rei.

Em suas paredes, milhares de pequenos orifícios em forma de orelha chamavam a atenção.

Cobriam boa parte das paredes externas da torre, de cima a baixo.

Naquele instante, quando quedaram em frente à estranha construção, algo inusitado começou a acontecer.

Eles passaram a sentir uma coisa esquisita e o barulho que faziam começou a diminuir.

Suas vozes desencontradas e em volume tão alto mudaram um pouco. Tornaram-se mais mansas.

Seus olhos, que miravam o umbigo e os pés a maior parte do tempo, se elevaram para contemplar a torre.

E então, eles começaram a entrar na construção.

Dessa vez disseram juntos, tanto os mais velhos como os mais novos e também aqueles que não eram jovens nem velhos: "Essa torre pode nos esconder e nos proteger da Bruxa do Silêncio".

E foram entrando um a um. Foram então se dispondo sentados na imensa escadaria em forma de caracol que havia no interior da torre.

E era curioso como através dos orifícios em forma de orelha o vento soprava de fora para dentro, cantando sons totalmente novos. E os sons ensinavam coisas, e eles iam experimentando assim uma forte aprendizagem...

Os sons que entravam na torre pelas orelhas esculpidas traziam a própria música da vida.

As vozes, os lamentos, os pedidos, os desejos, os sonhos, e todas as coisas que nunca haviam lhes chamado atenção, agora fluíam ... E eles, estranhamente, se deram conta de que podiam calar...

Calar para escutar...

E tudo o que ouviam começava a fazer sentido de uma forma absolutamente nova, profundamente rica, lhes trazendo uma maior compreensão dos outros e de si mesmos...

Pela primeira vez estavam todos calados, somente escutando.

E quanto mais escutavam, mais se banhavam por uma luz de indizível beleza.

E um milagre ia acontecendo: suas orelhas, antes quase invisíveis de tão pequenas, começaram a crescer.

Enquanto isso lá fora o sol se despedia, banhando o céu com tons avermelhados e alaranjados.

E o mais surpreendente aconteceu.

Montada num cavalo alado, que parecia ser feito do próprio pó das estrelas, desceu das nuvens uma bela mulher com os cabelos ao vento.

Era a dona da torre. Era a própria Bruxa do Silêncio.

Eles não sabiam, e na verdade nunca souberam, mas enquanto pensavam estar fugindo da Bruxa, o que fizeram foi caminhar para ela.

A mulher apenas sorria, altiva, enquanto ia descendo do seu cavalo. E pode presenciar emocionada o momento em que toda aquela gente foi saindo lentamente da sua torre. Estavam completamente renovados.

Agora a sua marcha era diferente. Sabiam calar-se nos momentos certos e falar nos momentos certos.

Alguns se abraçavam enquanto marchavam, alguns conversavam, dialogavam. Olhavam-se nos olhos, e algumas vezes, quando necessário, olhavam os umbigos. O certo é que tinham mais opções.

Finalmente estavam com uma profunda compreensão do que significava andar junto.

A caminhada não era mais barulhenta e sim harmônica e integrada. A lua e as estrelas já apareciam quando eles começaram a se distanciar da torre cantando em coro uma bela melodia.

E quando se afastaram e começaram a sumir no horizonte, a Bruxa do Silêncio, lentamente, foi entrando na torre, que era a sua casa.

Ela era, na verdade, a Fada da Felicidade.

(Kau Mascarenhas)

O nosso cérebro é doido!!!


De aorcdo cmo uma peqsiusade uma uinrvesriddae ignlsea,não ipomtra em qaul odrem asLteras de uma plravaa etãso, a úncia csioa iprotmatne é quea piremria e útmlia Lteras etejasm no lgaur crteo. O rseto pdoe seruma bçguana ttaol, que vcoê anida pdoe ler sem pobrlmea.Itso é poqrue nós não lmeos cdaa Ltera isladoa, mas a plravaa cmoo um tdoo. Sohw de bloa.

Fixe seus olhos no texto abaixo e deixe que a sua mente leia corretamente o que está escrito. Só custa a primeira palavra, depois o texto flui…

35T3 P3QU3N0 T3XTO 53RV3 4P3N45 P4R4 M05TR4R COMO NO554 C4B3Ç4 CONS3GU3 F4Z3R CO1545 1MPR3551ON4ANT35! R3P4R3 N155O! NO COM3ÇO 35T4V4 M310 COMPL1C4DO, M45 N3ST4 L1NH4 SU4 M3NT3 V41 D3C1FR4NDO O CÓD1GO QU453 4UTOM4T1C4M3NT3, S3M PR3C1S4R P3N54R MU1TO, C3RTO? POD3 F1C4R B3M ORGULHO5O D155O! SU4 C4P4C1D4D3 M3R3C3! P4R4BÉN5!

Uma Vela para Dario



Dalton Trevisan

Dario vinha apressado, guarda- chuva no braço esquerdo e, assim que dobrou a esquina, diminuiu o passo até parar, encostando-se à parede de uma casa. Por ela escorregando, sentou-se na calçada, ainda úmida de chuva, e descansou na pedra o cachimbo.

Dois ou três passantes rodearam-no e indagaram se não se sentia bem. Dario abriu a boca, moveu os lábios, não se ouviu resposta. O senhor gordo, de branco, sugeriu que devia sofrer de ataque.

Ele reclinou-se mais um pouco, estendido agora na calçada, e o cachimbo tinha apagado. O rapaz de bigode pediu aos outros que se afastassem e o deixassem respirar. Abriu-lhe o paletó, o colarinho, a gravata e a cinta. Quando lhe retiraram os sapatos, Dario roncou feio e bolhas de espuma surgiram no canto da boca.

Cada pessoa que chegava erguia-se na ponta dos pés, embora não o pudesse ver. Os moradores da rua conversavam de uma porta à outra, as crianças foram despertadas e de pijama acudiram à janela. O senhor gordo repetia que Dario sentara-se na calçada, soprando ainda a fumaça do cachimbo e encostando o guarda-chuva na parede. Mas não se via guarda-chuva ou cachimbo ao seu lado.

A velhinha de cabeça grisalha gritou que ele estava morrendo. Um grupo o arrastou para o táxi da esquina. Já no carro a metade do corpo, protestou o motorista: quem pagaria a corrida? Concordaram chamar a ambulância. Dario conduzido de volta e recostado á parede - não tinha os sapatos nem o alfinete de pérola na gravata.

Alguém informou da farmácia na outra rua. Não carregaram Dario além da esquina; a farmácia no fim do quarteirão e, além do mais, muito pesado. Foi largado na porta de uma peixaria. Enxame de moscas lhe cobriu o rosto, sem que fizesse um gesto para espantá-las.

Ocupado o café próximo pelas pessoas que vieram apreciar o incidente e, agora, comendo e bebendo, gozavam as delicias da noite. Dario ficou torto como o deixaram, no degrau da peixaria, sem o relógio de pulso.

Um terceiro sugeriu que lhe examinassem os papéis, retirados - com vários objetos - de seus bolsos e alinhados sobre a camisa branca. Ficaram sabendo do nome, idade; sinal de nascença. O endereço na carteira era de outra cidade.

Registrou-se correria de mais de duzentos curiosos que, a essa hora, ocupavam toda a rua e as calçadas: era a polícia. O carro negro investiu a multidão. Várias pessoas tropeçaram no corpo de Dario, que foi pisoteado dezessete vezes.

O guarda aproximou-se do cadáver e não pôde identificá-lo — os bolsos vazios. Restava a aliança de ouro na mão esquerda, que ele próprio quando vivo - só podia destacar umedecida com sabonete. Ficou decidido que o caso era com o rabecão.

A última boca repetiu — Ele morreu, ele morreu. A gente começou a se dispersar. Dario levara duas horas para morrer, ninguém acreditou que estivesse no fim. Agora, aos que podiam vê-lo, tinha todo o ar de um defunto.

Um senhor piedoso despiu o paletó de Dario para lhe sustentar a cabeça. Cruzou as suas mãos no peito. Não pôde fechar os olhos nem a boca, onde a espuma tinha desaparecido. Apenas um homem morto e a multidão se espalhou, as mesas do café ficaram vazias. Na janela alguns moradores com almofadas para descansar os cotovelos.

Um menino de cor e descalço veio com uma vela, que acendeu ao lado do cadáver. Parecia morto há muitos anos, quase o retrato de um morto desbotado pela chuva.

Fecharam-se uma a uma as janelas e, três horas depois, lá estava Dario à espera do rabecão. A cabeça agora na pedra, sem o paletó, e o dedo sem a aliança. A vela tinha queimado até a metade e apagou-se às primeiras gotas da chuva, que voltava a cair.


Texto extraído do livro "Vinte Contos Menores", Editora Record – Rio de Janeiro, 1979, pág. 20.